quinta-feira, 27 de maio de 2010

Uso da nanotecnologia reduz gastos e amplia qualidade da produção automotiva




Os olhos não podem ver, mas o bolso sente. Existem micropartículas que prometem transformar a indústria de automóveis e cortar custos em grande escala. A nanotecnologia, capacidade de criar ou manipular objetos ou substâncias numa dimensão um bilhão de vezes menor que um metro, está sendo cada vez mais presente na indústria automotiva. E serve tanto para desenvolver novos materiais -- como ligas metálicas ou plásticos mais leves -- quanto para reduzir custos.

As nanopartículas já são referência em segurança, conforto e durabilidade. Por isso, grande parte das montadoras recorrem a elas. Como nos catalisadores, nos quais sua aplicação permite reduzir de 70% a 90% a necessidade do uso de metais preciosos, como a platina e paládio. Já nas peças metálicas e plásticas, a nanotecnologia pode aumentar a resistência, diminuir o peso e aumentar a segurança. Nos fluidos refrigerantes e lubrificantes, a adição de nanopartículas reduz o atrito e aumenta a condutividade térmica, permitindo a operação em temperaturas mais baixas. "As aplicações são inúmeras e é estimado que até 2015 quase todos os veículos utilizarão de alguma forma a nanotecnologia em seus materiais", adianta Edson Orikassa, diretor de tecnologia da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva.

A Ford, por exemplo, já faz parcerias com a fábrica de aviões Boeing e a Universidade norte-americana Northwestern na produção de metais especiais, materiais térmicos, revestimentos e sensores externos. "A nanotecnologia pode impactar uma variedade muito grande de componentes e funcionalidades do veículo. E fornece instrumentos que ajudam a antecipar as expectativas dos clientes em termos de desempenho, conforto, conveniência e qualidade", afirma Erika Murray, gerente da parceria Ford, Boeing e Northwestern.

A Mercedes-Benz aplicou nanopartículas de cerâmica na pintura de todas as versões de seu top de linha Classe S. Elas garantem maior durabilidade da tinta e até previnem pequenos arranhões. Outra grande montadora no mercado de luxo, a Audi, tem utilizado a nova tecnologia em seus vidros. As moléculas nano aplicadas no pára-brisa são hidrofóbicas e repelem toda a água da chuva que cai sobre o vidro. Os limpadores se tornam dispensáveis até que o veículo ultrapasse 45 km/h.



Em catalisadores, aplicação da nanotecnologia reduz entre 70% e 90% a necessidade do uso de metais preciosos, como a platina e paládio

Mas a aplicação da nanotecnologia em escala industrial caminha aos poucos. Processo que, para se tornar viável, requer uma equação equilibrada entre aplicação e custos. "O desafio da nanotecnologia é que se torne acessível à maioria dos consumidores. Mas isso acontece devagar. O cliente de maior poder aquisitivo vai pagar pela tecnologia cara, que depois se torna popular. E é isso que a indústria busca", afirma Flávio Campos, diretor regional de São Paulo da SAE Brasil - Sociedade de Engenheiros da Mobilidade.


Além das vantagens técnicas, o que chamou a atenção para os nanos foi a possibilidade de reduzir o consumo de matérias-primas tradicionais. "A nanotecnologia seria uma alternativa mais viável, pois possibilita gerenciar melhor a utilização de materiais, como o alumínio e o magnésio", explica Cláudio de Maria, diretor de engenharia da Fiat América Latina. Tantas inovações no mercado renovam a indústria que, na guerra das vendas, usam armas tecnológicas para atrair a clientela. "A nanotecnologia chega não só para trazer progresso à indústria. O nível de competividade vai aumentar bastante e o benefício será tanto para o cliente quanto para as montadoras", opina Ronaldo de Castro, diretor da Nanotec.

NANOPASSOS
Embora a nanotecnologia seja uma novidade na produção, ela já é desenvolvida desde a década de 80. No exterior, as montadoras têm investido pesado na pesquisa e produção de automóveis e peças com componentes nano.
Só na Alemanha existem mais de 200 laboratórios que desenvolvem nanotecnologia que irá abastecer a indústria automotiva. No Japão, o número ultrapassa 400 instalações. Já por aqui, a produção ainda é bem pequena. Fica quase restrita à indústria de materiais plásticos e de metais. Os clientes brasileiros recebem de fora as grandes inovações.

"O Brasil não tem histórico de inovação tecnológica. O pensamento científico não está ainda dentro das empresas instaladas aqui. Sendo assim, seremos compradores de nanotecnologia e não produtores", reclama o químico Marco Antônio Chaer, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Para outros, esse desenvolvimento é questão de tempo e investimento, já que várias universidades como a Universidade Federal do Rio de Janeiro e a de São Paulo já possuem laboratórios e desenvolvem a nanociência. "É um mercado que cresce aos poucos, mas que será vantajoso a médio e longo prazo. É a tendência do futuro", avalia Cláudio de Maria, diretor de engenharia da Fiat América Latina.

Fonte: Da Auto Press